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mai 14, 2024

Vida Religiosa Consagrada na visão do Papa Francisco

Vida Religiosa


São João Paulo II, no início do Terceiro Milênio, ao escrever para os religiosos e religiosas, disse: “Vós não tendes apenas uma história gloriosa para recordar e narrar, mas uma grande história para construir! Olhai para o futuro para o qual o Espírito Santo vos projeta a fim de realizar coisas maiores”.

O Papa Francisco, que é um religioso jesuíta, afirma com muita propriedade: “Onde estão os religiosos, há alegria”.

Com uma carta apostólica, o Papa Francisco proclamou o ano de 2015 como o ano das pessoas consagradas. Nada mais oportuno do que sublinhar e destacar os desejos do Papa expressos nesta Carta Apostólica.

O Papa aponta três objetivos principais:

1. Olhar com gratidão para o passado: Nós, os Josefinos de Murialdo, no dia 19 de março de 2023, recordamos os 150 anos da fundação da Congregação de São José, em Turim (Itália). Durante todo o ano, lembramos as origens de nossa Congregação, bebendo das fontes primárias. Fortalecemos em nós um renovado entusiasmo para estar com as crianças, adolescentes e jovens pobres e abandonados, assim como fez o fundador, São Leonardo Murialdo, e todos os primeiros confrades da Congregação. Juntos, redescobrimos as fontes onde esses corajosos confrades buscavam energias e motivações diárias para realizar essa tarefa desafiadora. As fontes principais sempre foram a Palavra de Deus, a Eucaristia, a devoção a Nossa Senhora e a São José, a fraternidade comunitária e a presença constante junto aos mais necessitados. Fontes de puro amor e doação. Apesar das muitas limitações pessoais e estruturais, Deus agiu por meio de cada irmão e irmã para que a boa notícia do Evangelho fosse vivida, não apenas como exortação, mas como prática cotidiana, vivenciando com os jovens as atitudes de “amigo, irmão e pai”. Encanta também neste passado o imenso trabalho com leigos e leigas nas diferentes culturas do mundo onde a Congregação se encontra hoje.

2. Viver com paixão o presente: O olhar para o passado na ótica de Deus, do Espírito Santo, nos questiona e nos provoca a sermos fiéis à herança carismática que recebemos. É verdade que os tempos mudaram, mas o amor permanece o mesmo. É apenas criativamente necessário descobrir novas formas de vivenciar esse amor. Se já não é oportuno ter um internato, precisamos descobrir onde e como estar com os mais necessitados. No início da Congregação, tratava-se também de saciar a fome dos jovens, a fome real de pão, de comida. Hoje, as fomes dos jovens são tantas outras. A pergunta que o Papa nos faz hoje é se realmente somos fiéis ao Evangelho. Como somos boa notícia para cada criança, adolescente e jovem que a Providência nos faz encontrar? Jesus realmente é o centro de nossa vida, e vivemos com entusiasmo suas práticas do tempo em que caminhou conosco? Para viver um presente autêntico, é importante ir até onde está o desafio e escutar os gritos. O presente precisa de respostas novas, pois como Murialdo dizia, para tempos novos são necessárias novas respostas. A sociedade busca dar respostas com modernas tecnologias, mas não consegue cuidar dos corações em suas ânsias.

3. Abraçar com esperança o futuro: O futuro não nos pertence, mas pode ser vislumbrado com segurança se estivermos apoiados na Palavra de Deus e na centralidade de Jesus Cristo. Mais do que em outros tempos, hoje carecemos de uma verdadeira humanização. O individualismo, o consumismo, a acumulação de coisas e o poder dominador de alguns têm destruído ou ainda estão destruindo relações humanas saudáveis que favorecem a vida de todos. O cristão que assume seu batismo é uma lâmpada que vai iluminando o caminho de muitos irmãos e irmãs desesperançados. Na "Fratelli Tutti", o Papa Francisco apela para uma nova fraternidade universal. Precisamos de novos samaritanos que se inclinem sobre os doentes da sociedade e os levem para um lugar seguro. Precisamos de novas relações. Precisamos de novos políticos que realmente se preocupem com o bem de todo o povo de uma nação. Precisamos de religiões que indiquem caminhos de vida e pratiquem a proteção da vida em todas as suas formas.

A vida consagrada pode e deve "despertar o mundo", diz o Papa. Despertar o mundo com ações proféticas que promovam a acolhida da diversidade e do amor recíproco. Atitudes de comunhão que brotem de uma igreja em saída, para estar com os mais desvalidos da sociedade.

A vida religiosa consagrada na Igreja, nas palavras do teólogo checo Tomas Halik, pode desempenhar quatro atitudes junto ao povo de Deus. Em primeiro lugar, sentir-se parte do Povo de Deus e não uma classe diferente dentro da Igreja; um Povo de Deus que vive em plenitude o seu batismo. Em segundo lugar, ser uma escola de Evangelização. O religioso tem mais oportunidades de conhecer teoricamente os conteúdos da Iniciação e da Vivência da vida Cristã. A maioria do povo cristão tem apenas acesso fragmentário às verdades sobre Deus, sobre a transcendência e sobre o sentido da vida. Em terceiro lugar, os religiosos podem ser presenças cotidianas em hospitais de campanha, onde não chegam os mínimos apoios materiais e, sobretudo, apoios presenciais. Em quarto lugar, os religiosos podem, de modo criativo, viver a cultura do encontro, do diálogo, do discernimento, especialmente nas fronteiras de nossa sociedade, sem desmerecer uma atitude concreta na organização de encontros nos centros de nossas cidades.

Não há tempo a perder. A cada dia, precisamos rezar como São Paulo: “Senhor, o que queres que eu faça?” E como Maria: “Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim a tua Palavra”. Deixar-se encantar pelo Reino de Deus, pois quem um dia se encantou pelo Reino não tem mais tempo para descansar. O Espírito Santo precisa de pés, de mãos e, sobretudo, de corações para chegar ao coração de cada pessoa que se encontra na vida.

Assinatura_Geraldo

Pe. Geraldo Boniatti

Religioso Josefino da Comunidade de Formação do Santa Fé (Caxias do Sul – RS) e coordenador da Equipe Profecia e Carisma da Família de Murialdo.